Nunca Tati Berbardi me descreveu tão bem;
Eu sei que sou pesada, triste, dramática, neurótica, louca,
insatisfeita, mimada, carente. Mas você se esqueceu da minha maior
qualidade: eu sou só. (...) Eu sempre fui só querendo ter uma família
grande, café da manhã, Natal, cachorro, e eu continuo só quando te vejo
como minha família, mas você me deixa sozinha com duas ou três opções de
suco para uma ou duas opções de pão. O mundo é cheio de opções sem
você, mas todas elas me cheiram azedas e murchas demais. Eu continuo só
quando quero escrever uma vida com você, mas você detesta meus caminhos
anotados e minhas regras. E eu detesto seu sono e sua ausência. Eu
detesto seu riso alto e forçado pisoteando o meu mundo de sombras, eu
detesto você saindo pela porta e as paredes se fechando, se fechando, e
eu sem poder berrar para, pelo amor de Deus, você me resgatar, e me
colocar no colo, e me dizer que você me entende e sofre também. Eu sou
só porque enquanto eu pensava tudo isso, você impunha aos quatro ventos,
querendo parecer muito forte e macho para seu grupinho muito forte e
macho, que você poderia simplesmente abaixar meu som ou mudar de canal,
como um programa chato qualquer que passa na sua tv. Eu hoje fui ao
banheiro duzentas vezes para ficar longe do meu celular e do meu e-mail,
ficar longe de todas as possibilidades da sua existência. Me olhei no
espelho bem profundamente para enxergar minhas raízes e ganhar força,
chorei algumas vezes, fiquei sentada no chão do banheiro, para ver se
meu corpo esquentava um pouco ou porque estava mesmo me sentindo um
lixo. O ar-condicionado hoje está insuportável, mas eu não acho que mude
alguma coisa desligá-lo. Estar sozinha não muda nada, conheço bem esse
estado e, de verdade, sei lidar até melhor com ele. O que me entristece,
é ter visto em você o fim de uma história contada sempre com a mesma
intensidade individual. Eu tinha visto na sua solidão uma excelente
amiga para a minha solidão. Achei que elas pudessem sofrer juntas,
enquanto a gente se divertia...
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